Em homenagem ao RAP (e ao ZDQ, também, vá lá)

Miguel Sousa Tavares foi ontem à SIC caluniar e disparatar, que é para isso que lhe pagam. Da calúnia sobre a manifestação de 12 de março está o assunto tratado, já quanto ao disparate comecemos pelo factual: aos 3:26 deste vídeo afirma que “ao contrário do que diz o Jel não foi a rua que libertou os escravos, foi a imperatriz Leopoldina no Brasil, no Palácio Real”.

A Imperatriz Leopoldina faleceu em 1826, a Lei Áurea foi “sancionada em 13 de maio de 1888”. Pese a enorme dificuldade de mesmo as imperatrizes legislarem umas boas décadas após a sua morte, resta a possibilidade de se estar a referir a outra senhora, Leopoldina de Bragança e Bourbon, digo, Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, que sendo neta da dita imperatriz nunca passou de princesa. Sucede que a dita senhora assinou a Lei Áurea porque esta tinha sido aprovada pelos deputados, e não o inverso. Acontece que esta lei é apenas o passo final de um processo legislativo que se iniciou “com a Lei Eusébio de Queirós de 1850, seguida pela Lei do Ventre Livre de 1871, a Lei dos Sexagenários de 1885 e finalizada pela Lei Áurea em 1888.”

E foi mesmo na rua que os escravos se libertaram, mais exactamente na selva, favorecidos, é certo, pela ascensão do capitalismo britânico, mais dado a proletários que a escravos propriamente ditos, e com o apoio do abolicionistas, mais próximos da nova economia do que dos latifundiários esclavagistas. Se pretende apagar os quilombos da História, é favor que se limite a fazê-lo nos seus romances.

No final Miguel Sousa Tavares ainda afirma, sem se rir embora comentando um humorista:

“os livros que eu li (…) ensinam que isto acaba sempre em ditadura”.Isto são as manifestações de rua. Ora manifestações de rua a sério, em Portugal, a última vez que as houve foi pelos idos de 74-75, e por acaso na primeira, logo a 25 de abril de 74 no Largo do Carmo, um senhor chamado Francisco Sousa Tavares nota-se bem de megafone interventivo nas mãos. Que essas idas do povo à rua tenham acabado em ditadura, por muito que eu me queixe deste regime, parece-me manifestamente exagerado. Mas ele lá sabe

Retirado do blog Aventar

Como já não há crónicas do RAP e do ZDQ a desmascararem esse plageador aqui ficam novos disparates históricos com Imperatrizes a legislarem 62 anos depois de morta e ainda com ofensas ao seu falecido pai.